28 de abril de 2009


Diz uma velha história que o homem feliz não tinha camisa. Em plena sociedade de consumo, é impossível seguir o lema. Comprar faz parte do dia-a-dia, marca as relações sociais, é a base da economia. O problema é que o consumismo chegou a níveis insanos no mundo, aumentando a demanda por matéria-prima, a produção de lixo, a pressão sobre o meio ambiente.
Resolver essa equação não é simples, mas precisamos encarar.
Um relatório da organização WWF mostra que consumimos 30% acima da capacidade regenerativa do planeta. Se a tendência não mudar, em 2030 seriam necessárias duas Terras para suprir tal demanda.
O relatório Planeta Vivo mostra ainda que tamanha pressão levou à perda de 30% da biodiversidade nos últimos 35 anos. Além do aumento populacional, a demanda gerada pelo ser humano dobrou por conta justamente do aumento do consumo individual.

Se compramos uma roupa nova, raramente consideramos que foi necessário cultivar algodão, processá-lo, fabricar a peça, empacotá-la, transportá-la. Se embarcamos em um avião, não pensamos que cada componente dele vem da natureza. É uma espécie de "ilusão de ótica", diz o professor da UFRJ José Augusto de Pádua, já que continuamos tão dependentes da natureza quanto nossos ancestrais.
Ao mesmo tempo em que não costumamos pensar nessas relações, o que consumimos diz muito sobre nós. "Consumir é comunicação", diz a cientista social Fátima Portilho, autora do livro "Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania". "Através dos bens que uso eu também digo quem sou. Eles determinam o status na sociedade." E, para ela, não há nada de mau nisso: em qualquer cultura, bens materiais marcam fronteiras e dizem quem é quem na hierarquia social. Fátima considera um erro do movimento ambientalista tachar o que é "certo" e "errado".
O problema é que os recursos estão se exaurindo - e, o que é pior, por causa de uma minoria privilegiada. Uma pesquisa do Worldwatch Institute, O Estado do Mundo 2004, mostrou que apenas um quarto dos habitantes do globo consomem acima de suas necessidades. Metade da população consome até a quantidade necessária para a sobrevivência, e metade disso, abaixo do que precisa.
O consumo de cada umDe modo geral, o consumo está profundamente associado às carências e frustrações da vida contemporânea. "Muitas vezes ele supre uma fantasia: 'Se eu comprar tal roupa, serei mais bonita, poderosa, feliz'", diz a psicóloga Denise Ramos, da PUC-SP.
Se o consumo é um elemento tão fundamental no imaginário e na vida das pessoas, ele pode se tornar também um instrumento poderoso. Em uma pesquisa do Akatu, mais de 50% dos entrevistados disseram acreditar que o que compram define quem são. "Fica claro que, ao escolher empresas responsáveis, eles estão praticando um ato de cidadania", diz Helio Mattar. Sendo assim, se é impossível fugir do consumo, o jeito é abraçá-lo da melhor maneira. É o que Fátima Portilho chama de "politização do consumo". Segundo ela, de maneira crescente, o ato de escolher e usar produtos tem se tornado uma ação política ao lado de práticas tradicionais, como o voto. "É na esfera do consumo que as pessoas percebem que podem fazer alguma coisa. Com a internet, mais acesso à informação, o consumidor está cada vez mais ativo no mercado".
Passos para a mudança Até mesmo deixar de comprar pode ser uma maneira de dar o recado: não é à toa que movimentos como o Buy Nothing Day, o dia de não comprar nada, conquistam adeptos. Criado em 1992 pelo artista canadense Ted Dave e encampado pela revista de vanguarda Adbusters, o movimento reúne milhares de pessoas em 65 países. Outro fenômeno com milhões de seguidores no mundo todo é a "simplicidade voluntária", que prega uma nova relação com os bens, o dinheiro e o tempo. Muitos dos seguidores abrem mão de trabalhar tantas horas e ganhar tanto dinheiro para aproveitar as coisas simples da vida. Praticante dessa filosofia, Jorge Mello propõe que cada um pergunte a si mesmo o que é necessário. "Progressivamente as pessoas descobrem que podem viver com mais qualidade sem ostentação."
Os especialistas são unânimes: não existe receita para ser um consumidor responsável. Há diversos sites, como o http://www.climaeconsumo.org.br/, em que o visitante pode calcular sua pegada ecológica, o rastro de degradação ambiental deixado por seus hábitos. O site do Akatu traz o Teste do Consumidor Consciente, com uma série de perguntas para avaliar como o visitante pode tornar seus hábitos mais sustentáveis.
Em que você pode ajudar?- Passe algumas das horas que gastaria nas compras visitando pessoas queridas, que você viu pouco no ano.
- Planeje os gastos, estipule um limite de despesas e não saia dele. Se comprar a crédito, atenção aos juros. Faça prestações que caibam no orçamento.
- Escolha presentes alternativos, reciclados, produzidos artesanalmente, de pouco impacto ambiental e feitos para durar.
- Dê presentes simbólicos: um texto escrito por você ou do qual goste; uma canção que marcou o ano, uma entrada para visitar uma exposição.
- Reflita antes de comprar: o presente é realmente do gosto do presenteado? É um gesto de real amizade ou apenas um "genérico"?
- Doe o que você não usa, proporcionando uma vida melhor a quem precisa.
- Diminua o uso de embalagens, preferindo as que possam ser reutilizadas.
- Recicle e dê cara nova a tudo o que for possível.
- Não compre produtos piratas ou contrabandeados, que contribuem com o crime organizado.
- Use luzes de baixo consumo.
- Compre o necessário: evite exagero de alimentos e bebidas. Se possível, escolha alimentos orgânicos e locais.
- Opte por comprar produtos de empresas social e ambientalmente mais responsáveis.
extraido do http://www.yahoo.com.br/
matéria da jornalista Natália Viana da revista Sustenta

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